sexta-feira, 2 de março de 2012

A Santa de Roca

Uma santa despida do manto, inacabada ou desfeita, translúcida, a mostrar-nos os seus vazios cheios de significados e significâncias. Uma santa de roca. Maria do Céu Guerra e José Costa Reis criaram esteticamente uma D. Maria, a Louca, inspirada nessa figura simples, um esboço de ser. E D. Maria, essa Maria que ora assistimos, ou nos assiste ela, nunca esteve tão bem materializada. Tomei conhecimento deste particular quando cheguei a Lisboa em julho do ano passado para acompanhar os últimos ensaios e a semana de estréia no Teatro A Barraca e me surpreendi. Isto porque, dois anos antes, de passagem por Lisboa a caminho dos Açores, caminhando por uma das lindas vielas de Alfama, me deparei com duas santas de roca em uma vitrine de um antiquário. Pensei imediatamente: são elas a D. Maria! Fotografei e enviei à atriz Berna Sant’Anna (que viveu a personagem na montagem de estréia, em Florianópolis), dizendo ter encontrado D. Maria pelas ruas de Lisboa. Nunca havia comentado isto com a Maria do Céu, com o Costa Reis ou qualquer outro componente d’A Barraca. Quedamo-nos encantados Demos créditos à coincidência, por escrúpulos, mas nos deliciamos mesmos imaginando ser obra dos mistérios que envolvem essas santas, essas rainhas, essas mulheres, que, despidas do manto do mito que as envolve, se nos mostram todas, mesmo que aos pedaços.

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